Michael Taylor chega ao Japão (esq.) para ajudar Ghosn (dir.) a fugir
Considerados culpados de ajudarem Carlos Ghosn a escapar cinematograficamente do Japão pela Justiça de Tóquio (leia aqui), os americanos Michael e Peter Taylor se disseram arrependidos da operação. De acordo com a agência Reuters, ambos prestaram depoimento informando como foram persuadidos a cooperador com o executivo franco-brasileiro, que vive em asilo no Líbano (leia aqui) desde a fuga. As declarações foram dadas perante três juízes nessa terça-feira (29).
Segundo a agência, os Taylor depuseram enquanto estavam algemados e ladeados por guardas. “Lamento profundamente minhas ações e sinceramente peço desculpas por causar dificuldades para o sistema judicial e para o povo japonês“, disse Michael, veterano do exército dos Estados Unidos, com a voz trêmula. Perguntado se acredita que Ghosn deveria ter permanecido no Japão, ele respondeu apenas “sim”.
O filho de Michael também disse estar arrependido de ter cooperado na fuga. “Passei mais de 400 dias na prisão e tive muito tempo para refletir. Assumo toda a responsabilidade e lamento profundamente minhas ações“, afirmou Peter perante os juízes. Os Taylor apelam para que a Justiça do Japão permita que eles deixem temporariamente o país para verem seus familiares nos EUA.
COMO GHOSN CHEGOU AOS TAYLOR?
De acordo com o veterano do exército, uma prima de Ghosn, que é cunhada de sua esposa e madrinha de Peter, ajudou a persuadi-lo em favor do ex-CEO da Renault-Nissan. Ele se sensibilizou com Carlos e Carole quando lhe foi dito que o franco-brasileiro poderia passar 15 anos na prisão. Além disso, teria sido convencido de que não comparecer ao Tribunal após pagamento de fiança não seria crime no Japão.
O filho Michael afirma que foi até o Japão em três oportunidades, ao longo de 2019, para se encontrar com Ghosn. Porém, não haviam discutido especificamente um plano de fuga. Hoje, ele diz “se sentir usado” pelo executivo. A investigação aponta, contudo, que os Taylor receberam US$ 1,3 milhão para ajudar no escape, além de outros US$ 500 mil para despesas legais.
Extraditados em março (leia aqui), os acusados estão encarcerados na mesma prisão onde Ghosn aguardava seu julgamento. Os advogados de defesa tentaram adiar ao máximo o despacho dos Taylor ao Japão, alegando que eles não poderiam ser processados por ajudar alguém a não comparecer a uma audiência. Além disso, haveria risco de “interrogatório implacável” e tortura, como Ghosn também argumentava publicamente. No Japão, permite-se que os promotores interroguem suspeitos sem a presença de advogados e a taxa de condenação chega a 99%. Na audiência, porém, Michael disse que o tratamento recebido pelas autoridades locais foi “respeitável e honrado”.
Caso sejam considerados criminosos, o Japão pode impor pena de até três anos de prisão para os Taylor. Eles retornam ao Tribunal nessa sexta-feira (2)
[ Fonte: Reuters ].