As armas de Carlos Ghosn seguem apontadas para a Nissan. Após afirmar que a empresa se tornou “medíocre e entediante” por sua gama de produtos (leia aqui), o ex-CEO da empresa, que fugiu do Japão no final de 2019 após ser preso acusado de fraude fiscal (leia aqui, aqui e aqui), voltou a criticar a montadora nipônica. Dessa vez falando sobre o plano de eletrificação da companhia, divulgado há cerca de um mês (leia aqui), o executivo disse que o projeto mostra que não há “visão” na estratégia traçada. “Eles não sabem para onde estão indo”, disparou.
Em entrevista virtual sobre o lançamento de seu livro no idioma japonês, Ghosn foi questionado sobre o mercado. Para ele, o mercado dá sinais de que a eletrificação é o caminho natural para o setor. “A velocidade da mudança [interna] é o que vai determinar quem sairá vencedor [da “corrida dos elétricos”]”, apontou. Na opinião do ex-CEO, o objetivo da Nissan de eletrificar 50% da gama até 2030 mostra que o ritmo de transformação da empresa é lento. Na Europa, fala-se em 75% dos veículos novos sendo eletrificados já em 2026. “Eles estão em uma má posição nessa disputa. Não há visão. Eles não sabem para onde estão indo. Eles não têm uma imagem clara sobre a enorme transformação tecnológica que está por vir”, acrescentou.
Comandante da Nissan entre 1999 e 2017, Ghosn fez questão de lembrar que foi ele quem apostou nos elétricos, com o lançamento do Leaf em 2010. “Quando lancei o primeiro elétrico de alto volume, todos riram de nós, tipo ‘vocês estão perdidos'”, recordou, acrescentando que, atualmente, apostar forte nesse tipo de propulsão é o “único caminho”. “Quando vemos os investimentos que têm sido feitos, não acho que seja muito dinheiro. O mercado está se movendo com a quantia certa de recursos, na velocidade ideal. Logo estaremos 100% elétricos”, diz. Ele cita o caso da Tesla, que passou de US$ 1 trilhão em valor de mercado. “O mercado está dizendo que estamos largando os motores a combustão de vez.”
No entender de Ghosn, não apenas a Tesla, mas as companhias chinesas também têm grande potencial nesse ramo. Para ele, as “novatas” têm vantagem sobre companhias mais tradicionais, por poderem arriscar mais, além de estarem aplicando recursos diretamente na nova tecnologia. Ele revelou ainda estar dando consultoria sobre mobilidade elétrica direto do Líbano, em meio virtual. “Os chineses vão atuar bem com a eletrificação”, comentou.
Carlos Ghosn segue sob asilo em Beirute, capital do Líbano, após fugir do Japão. Com cidadania libanesa, ele está protegido pelas leis locais, além de ter o “trunfo” de os países não possuírem acordo de extradição. O ex-CEO da Nissan alega inocência e afirma ter escapado da terra do sol nascente alegando que não teria um julgamento justo.
[ Fonte: Automotive News ]