Herbert Diess, CEO da Volkswagen
O CEO da Stellantis, Carlos Tavares, não está sozinho nas dúvidas colocadas em torno da eletrificação dos veículos (leia aqui e aqui) – o comandante da Toyota, Akio Todota, também já demonstrou preocupação sobre o processo (leia aqui). Quem engrossa o couro é o CEO da Volkswagen, Herbert Diess, diretor de uma empresa que investe pesado na propulsão elétrica. Em entrevista ao site The Verge, o executivo opinou ser “quase impossível” que a União Europeia consiga “acabar com os carros a combustão” nos prazos determinados pelos governos. Por ora, a Europa fala em banir a venda de modelos a gasolina e a diesel até 2035 (leia aqui).
De acordo com o CEO, há muitas variáveis que parecem não terem sido consideradas – como corriqueiramente fazem alguns legisladores… – na imposição dos elétricos. “Se tivermos, aqui na Europa, uma quota de mercado de 20% (em 2030), para conseguir esses 50% de vendas de elétricos, precisamos de seis giga-fábricas. Essas fábricas têm de estar construídas e a laborar em 2027, 2028 para atingir o nosso objetivo de 2030. É quase impossível de fazer isso”, explica Diess. Ou seja: cobrir totalmente o mercado “requer” das marcas cerca de 30 destes complexos gigantescos.
ID.3 seria o carro-chefe da eletrificação da VW
O termo “giga-fábrica” não é à toa: esse tipo de estrutura costuma ter, em média, área construída medindo um quilômetro de largura por dois quilômetros de comprimento. E elas servem apenas para produzir baterias. “Temos de comprar todas as máquinas [para as fábricas]. Temos de construir as fábricas. Temos de encontrar as localizações [para as construir]. Temos de treinar as pessoas. Temos de garantir o fornecimento e qualidade das matérias-primas. É um desafio enorme”, pontua Diess. “Não é só dizer: ‘Vamos desligar os carros com motores de combustão interna.’ É simplesmente impossível”, adiciona.
ID.4, porém, tem roubado o protagonismo
Por fim, o CEO da Volkswagen falou sobre algo que muitas vezes se ignora: a origem da energia elétrica. Com o aumento na demanda – afinal, todos os carros hoje vendidos com motor a combustão precisarão de eletricidade -, é preciso preparo para atendê-la. “Os carros elétricos só fazem sentido se a [fonte de] energia for renovável, apenas se a energia for realmente ‘verde’, que vem do vento ou sol ou nuclear”, aponta. Como exemplo, ele fala da Polônia, país que tem 70% da eletricidade oriunda da queima de carvão. “Antes de vendermos carros elétricos, temos de converter a 100% renováveis o setor primário [de energia]”, enfatiza Diess. “Isto requer tempo e é por isso que dois planos ambiciosos não irão funcionar. Será até contraproducente, porque fazer veículos elétricos em fábricas que funcionam a carvão é ainda pior do que andar em carros a gasolina”, finaliza.
Até a Kombi voltará como elétrica
As declarações de Diess chama atenção não apenas pelo fato de executivos de grandes montadoras estarem, pela “primeira vez”, posicionando-se cautelosamente em relação à eletrificação. O impacto maior está na posição do executivo dentro da Volkswagen, empresa que tem buscado “liderar” esse processo, especialmente após o escândalo Dieselgate (leia aqui). O grupo terá 70 novidades com esse tipo de propulsão até 2025 (leia aqui) e pretende ter apenas elétricos no Velho Continente até 2035 (leia aqui). O investimento total é estimado em € 89 bilhões, € 52 bilhões apenas para o desenvolvimento de produtos.
[ Fonte: The Verge, via Razão Automóvel ]